Imagem extraída do Blog Letra e Luz |
Macabéa
é uma jovem que perdeu os pais muito cedo e foi criada por uma tia altamente
insensível e acaba migrando de sua cidade natal, Alagoas para o Rio de Janeiro.
Começa então a trabalhar de datilógrafa e aprende bem lentamente a verdade
sobre a realidade que a cerca. Essa é a protagonista do último livro publicado
por Clarisse Lispector que adotou o alter-ego de Rodrigo S.M para contar a
história.
O
livro todo em si trás uma narrativa bem crua e bastante complexa, diferente do
convencional. Por se tratarem de fatos, não se aprofunda em detalhes de lugares
ou características gerais comumente encontradas em outros livros. Para se ter
uma ideia, em um trecho do livro o “autor” faz a seguinte citação: (Esta
história são apenas fatos não trabalhados de matéria prima e que me atingem
direto antes de eu pensar. Sei muita coisa que não posso dizer. Aliás pensar o
quê?)
O interessante é ver as ideias soltas do
“autor” em forma de pensamentos. É como se pudéssemos adentrar sua mente para
acompanhar todo o processo criativo da trama. Como se tudo aquilo ainda
estivesse sendo lapidado para ser finalmente jogado no papel.
A
história começa a fluir mesmo após umas vinte páginas. É quando somos formalmente
apresentados a Macabéa, uma personagem que está longe de ser glamorosa. Além de
ter uma vida árdua e miserável, a moça nunca recebeu uma demonstração se quer
de afeto por parte da tia que a criou. Era tratada como uma coisa qualquer, não
teve infância porque era forçada a fazer tarefas domésticas.
Devido
o jeito que a personagem nos é mostrada, muitas pessoas podem acha-la uma
verdadeira sonsa, mas no fundo ela é uma vítima do destino e nem mesmo tem consciência
disso. Na verdade Macabéa é ignorante, não no sentido ofensivo da palavra, mas
no sentido de não ter conhecimento sobre absolutamente nada. Ela acredita ser
feliz porque nunca lhe foi explicado o que é de fato ser feliz. Por falta de
pessoas que lhe ensinem coisas importantes da vida, Macabéa acaba buscando
conforto e alento em um radinho de pilha sintonizado na Rádio Relógio que além
de contar o tempo ainda dá informações relevantes sobre assuntos variados. A
coisa da qual a moça mais gosta no mundo é a clássica combinação Romeu e
Julieta (goiabada com queijo). Desprovida de ambição, maldade, ou qualquer
outro tipo de emoção, Macabéa acaba conquistando aos poucos a afeição dos
leitores não por sentirmos pena dela, mas por sua simplicidade mesmo.
Macabéa
finalmente se apaixona e começa a se dar ao luxo de fazer coisas que nunca sentiu
vontade de fazer quando encontra Olímpico, um homem que é completamente o seu
oposto. “Cabra Macho” que sempre dá seu “jeitinho” para tirar proveito de
alguma situação. Assim como todas as outras pessoas, ele não demonstra um
mínimo de carinho por Macabéa, apesar de namora-la. Também tem Glória, uma
colega de serviço que acaba tomando-a o namorado. Apesar de tudo, Macabéa não
sente raiva e nem guarda rancor de ninguém.
Não
dá para se aprofundar muito na história porque a maior parte do livro é composta
pelos pensamentos de Rodrigo . S.M. Sem contar que o prefácio presente nas
orelhas da capa possuem um Spoiler completo, mesmo não revelando o verdadeiro
final. Achei esse livro um tanto engenhoso por parte da autora. É o tipo de
história que nos faz refletir a natureza humana por um ângulo de vista novo. A
protagonista possui uma inocência tão natural que nos faz sentir empatia por
ela. “A Hora da Estrela” é um livro que apesar de ter uma narrativa um tanto
complexa, é fácil de ser lido e nos prende não apenas pela curiosidade, mas
também por não possuir separação de capítulos.
Outro
fato interessante que pude reparar é referente às últimas páginas. Não sei se
antes de escrever esse livro Clarisse Lispector tinha conhecimento da
enfermidade que tinha, mas no finalzinho pude perceber uma sutil despedida da
autora em relação a sua própria vida. Além das palavras que dão a entender que
eram desejos de uma pessoa para sua pós mortem. Clarisse morreu em Dezembro de
1977 aos cinquenta e seis anos, vítima de câncer no ovário poucos meses após o
lançamento de “A Hora da Estrela”.
Em
1985 foi feita a adaptação para cinema da obra. Assim como ocorre em várias
outras adaptações, ocorreram mudanças digamos necessárias no roteiro desse longa
metragem. A primeira de todas é a ausência do narrador que no livro é uma
presença essencial. Muitos acontecimentos do livro foram mantidos e outros
acrescentados, pouca coisa foi retirada. O que deixa o filme altamente fiel a
obra da Clarisse. Nesse caso os acréscimos devem ser compreendidos devido o
fato de que a maior parte do livro é composta por pensamentos do “autor”. Sem
contar que o filme trás uma perspectiva diferente para quem leu o livro.
Achei
interessante ver um filme baseado em uma obra da Literatura nacional. Já que
dificilmente vemos produções desse tipo. Diferente dos filmes americanos, e até
mesmo de outras produções nacionais, “A hora da Estrela” é um filme bem
simplista que aparenta ter tido um orçamento baixo e apesar disso acabou
arrecadando alguns prêmios dentro e fora do Brasil. O problema é que apesar de
ter tido um bom desempenho, o filme mal é lembrado por especialistas. Se você
já leu o livro, assista ao filme porque é bastante interessante. Se você já viu
o filme, leia o livro e tire suas próprias conclusões.
Nenhum comentário:
Postar um comentário