sexta-feira, 1 de maio de 2015

Dia do Trabalho



Eu sou de um país de conceitos completamente invertidos. Sou de um país aonde é mais fácil barganhar do que realmente merecer. Sou de um país aonde para ser melhor visto, é preciso se vitimizar e fazer-se de coitado(a) para receber bons benefícios. Sou de um país aonde é mais fácil adquirir um peixe pronto do que simplesmente aprender a pescar. Sou de um país aonde a genuína arte é vista como lixo para que o banditismo possa tomar conta de tudo sob a desculpa de falta de opção. Sou de um país aonde quanto mais se trabalha para se chegar a algum lugar, mais do fundo do poço se aproxima. Sou de um país aonde fazer grandes escolhas é sinônimo de escravidão. Sou de um país que bombardeia pessoas desarmadas que lutam por melhorias enquanto os verdadeiros vilões estão por aí dando risadas da nossa cara.
Sou de um país aonde aquele que rouba um mantimento barato qualquer para garantir a refeição da família acaba definhando na prisão e os verdadeiros bandidos continuam soltos, alguns com terno e gravata, outros com pertences tomados inescrupulosamente de um trabalhador apenas para que possam se ostentar. Sou de um país aonde encher o cú de droga se torna subsídio e desculpa para te desviar dos problemas reais.
Sou de um país aonde delinquentes aspirantes a marginais são protegidos por um escudo blindado que chamam de estatuto. Sou de um país aonde as autoridades superiores colocam seus óculos cor de rosa para não enxergar as verdadeiras mazelas do povo. Sou de um país aonde estudar é bobagem, tornar-se um excelente jogador de futebol é mais relevante. Sou de um país aonde os “pobres coitados” são mais merecedores de coisas essenciais do que aquele que labuta diariamente.
Feliz dia do trabalho para você que precisa acordar cedo todos os dias para trabalhar, tentar viver corretamente tendo de aguentar um governo vampiro que só lhe impõe mais e mais e mais e mais impostos para que um bando de vagabundos possam receber sua “bolsa preguiça” mensalmente. Esses mesmos vagabundos é que estão se proliferando e enchendo nosso país com sementes com cara de abortadas, como diria Cazuza. Parabéns para você que tem de aguentar dia após dia o peso e broncas de um patrão e perceber que para manter-se vivo nesse país falido é preciso tornar-se amargo, intolerante e desonesto.
Um brinde para toda essa hipocrisia maldita que só traz desgosto para aqueles que querem apenas viver sossegadamente sem precisar sentir-se acuados dentro de suas próprias casas e pedem apenas por mais saúde, educação, moradia e segurança. E um beijo para aqueles que não entenderam a minha ironia em alguns pontos. Hoje definitivamente, não estou para poesia.
Manifesto Pessoal.

domingo, 11 de janeiro de 2015

Minha Primeira Paixão


Em seu primeiro dia de aula na nova escola, Frida acaba atravessando, sem querer, o caminho do distraído José Olímpio, mais conhecido como Pimpo. Tem início então uma pequena e inofensiva guerra particular. Enquanto Frida é uma excelente aluna e se dá bem em Matemática, Pimpo é um pequeno poeta que se entende melhor com o Português. Enquanto ela tem como bicho de estimação uma cadela, o garoto tem uma tartaruga. Enquanto a menina tem sardas e cachinhos de cabelo ruivo, ele usa óculos com armação preta e ligeiramente grossa.
As trocas de provocações e pequenas vinganças os levam a prestar mais atenção um no outro. E apesar de possuírem incontáveis diferenças, ambos descobrem o mais nobre dos sentimentos, ainda em sua forma mais ingênua e pura. Para falar um pouco mais sobre esse livro preciso contar uma breve história. Como já é do conhecimento de quem acompanha o Blog, eu marquei presença em três dias da Bienal do Livro (postagem sobre a Bienal aqui). Um dos livros que comprei no primeiro dia foi “Minha Primeira Paixão”. Depois de tê-lo procurado em minha cidade e não ter encontrado, o achei em um dos estandes do evento. Claro que não tive dúvida em comprar na mesma hora.
Na semana seguinte a compra, quando fui participar do Bate-Papo com Pedro Bandeira, levei três livros. Um deles havia sido “Minha Primeira Paixão”, mas só consegui autógrafo nos outros dois títulos que estavam comigo. Nesse Bate-Papo, por mera coincidência, descobri um pouco mais sobre a obra. Alguém fez uma pergunta sobre “Amor Impossível, Possível Amor” (resenha aqui). Eu já conhecia a história por trás da produção desse livro. O que descobri de novo foi que “Minha Primeira Paixão” se encaixa no mesmo conceito.
Pedro Bandeira recebeu de familiares o desafio de dar continuidade em histórias e rascunhos deixados por autores que faleceram antes de concluir o trabalho. O autor explicou que achou mais difícil continuar a história deixada por Carlos Queiros Telles porque era um amigo querido. E que apesar de pouco conhecer Elenice Machado de Almeida, admira muito o trabalho da autora que faleceu no ano de 1989. Ao descobrir esse detalhe, que me passou despercebido na sinopse presente na parte de trás do livro, senti mais vontade de devorar essa obra. Mas não podia furar a fila dos livros que estava lendo antes.
Ao contrário do que houve com “Amor Impossível, Possível Amor”, eu pessoalmente não consegui distinguir o ponto de onde o Pedro deu continuidade a “Minha Primeira Paixão”. A história é praticamente homogênea devido ao fato de o autor ter sido capaz de captar a essência deixada por Elenice Machado de Almeida. Achei a leitura bastante prazerosa e extremamente fácil. Se não me engano, levei pouco mais de uma hora e meia para ler tudo.
Confesso que enquanto fazia a leitura, me vi tendo recordações de quando tinha apenas treze, quatorze anos no máximo, e vivia dilemas amorosos semelhantes. Nunca fui de ficar de implicância com as garotas de quem já gostei, mas a sensação do drama colegial e toda inocência da pré-adolescência eram quase iguais. Outro fator que achei bastante interessante foi a maneira como os capítulos são expostos. Por se tratar de dois protagonistas, a história é narrada simultaneamente na primeira pessoa, intercalando o ponto de vista entre Frida e Pimpo. As ilustrações, sob um ponto de vista particular e artístico, não deixam nada a dever a outras obras.
O livro em si é bastante favorável para incentivar pessoas que estão começando a desenvolver o prazer pela leitura. Não é nenhum “Diário de um Banana” com todos aqueles desenhos, pautas de folhas de caderno, etc, mas ainda assim tenho certeza de que conquistará tantos adolescentes quanto. Por fim, mais um livro do meu autor nacional favorito a adentrar a minha coleção com orgulho. Espero que as pessoas que tiverem um exemplar desse em mão possam se divertir tanto quanto eu com os ajustes e desajustes desse jovial casal de apaixonados.

O Medo e a Ternura


A vida da jovem Esmeralda parecia estar caminhando positivamente quando a garota de quinze anos acaba sendo sequestrada erroneamente por três perigosíssimos bandidos que ao que parece, haviam fugido da prisão. A vida da jovem passa então por um enorme risco nas mãos de Frolô, Centiquatro e Pexebôi, que esperam receber uma quantia generosa em dinheiro pelo resgate da “rica” garota. Levada para o cativeiro situado em um lugar conhecido como “O Vale dos Mortos”, ela é mantida sobre a vigilância do estranho Bicho Preto. Um homenzarrão que tem deformidades físicas geradas possivelmente por problemas no parto. Enquanto o tempo corre, a vida da garota passa por verdadeiros momentos de terror. Até que percebe que de todos os horripilantes bandidos, o que menos lhe apresenta ameaça é justamente o deformado Bicho Preto. Após um longo período de desespero e com a calma já recobrada, Esmeralda deixa de ver o rapaz como uma aberração e o passa a olhar de uma maneira mais humanizada. O sentimento que gira em torno desses dois personagens não é exatamente algo como o a Síndrome de Estocolmo, onde a pessoa mantida em cárcere se vê afetivamente ligada a seu algoz. Mesmo porque o sentimento que os envolve está mais para ternura mesmo do que necessariamente paixão.
Essa é mais uma versão de Pedro Bandeira para um clássico da literatura mundial, o livro “Notre-Dame de Paris” (Nossa Senhora de Paris), do francês Victor Hugo. Mas que é popularmente conhecida por aqui através da adaptação da Disney da mesma obra, sobre o nome de “O Corcunda de Notre Dame”. Eu não assisti a versão da Disney porque confesso ter um pouco de aversão aos trabalhos da empresa. Assim, não posso fazer uma comparação das duas obras. O que posso dizer sobre esse livro, é que ele traz a já conhecida essência dos livros de Pedro Bandeira. Ação desenfreada que se inicia logo nas primeiras linhas do texto com muito mistério e um final com gostinho de quero mais.
O livro em si é curto e de facílima assimilação. Dinâmico e direto possibilita o leitor a devora-lo em poucas horas. Achei interessante o autor ter “preenchido” alguns espaços com os pesadelos de Esmeralda. O que ajudou a acrescentar o clima de suspense na trama. Como a história se mostra um tanto imprevisível, em alguns momentos me vi especulando o que poderia acontecer logo à frente. Fiquei imaginando quem seria o verdadeiro mandante daquele crime e como terminaria tudo. Também após ler a última palavra, fiquei com a curiosidade de saber o que poderia acontecer depois.
O livro traz a tona um assunto que de certa forma já é um tanto clichê. A maneira como as pessoas costumam julgar umas as outras apenas pela aparência. No caso da trama, Bicho Preto, que é o feio, é visto justamente como uma espécie de monstro. Já a bela Esmeralda é vista como “a garota rica” apenas porque estava bem aparentada no momento em que fora sequestrada. “O Medo e a Ternura” permanece com uma trama bem contemporânea. Atualmente algumas mulheres (atrizes, modelos e afins) se rendem a ditadura estética. Ditando modas, incentivando a todos a buscarem a perfeição física apenas por vaidade. A sutil lição de moral que fica ao ler o livro é aquilo que todos já estão cansados de saber, mas dificilmente praticam. A beleza que realmente importa é a interior. Mais uma recomendação que faço com toda sinceridade.

Olhai os lírios do Campo


Eugênio é um jovem médico que sempre ambicionou o conforto e o dinheiro. Desde a infância sua família sofria com a dificuldade financeira. Filho de Dona Alzira e Angêlo, o rapaz sentia vergonha de sua origem, chegando a menosprezar o pai que era um simples e esforçado alfaiate. Eugênio se envolve com Olívia, uma amiga de turma que só se tornou notável para ele após se formarem na faculdade. Uma das únicas amigas de verdade que sempre tentou fazê-lo enxergar a verdade.
Entre a árdua tarefa de exercer sua profissão e crescer profissionalmente, o jovem acaba “acidentalmente” conhecendo Eunice. Filha de família rica que se sente onipotente diante das outras pessoas, vendo-as como cobaias para suas experiências. Cego pela ganância, Eugênio se casa com a garota rica e insensível por puro interesse de adentrar na alta elite da sociedade e conseguir o conforto e estabilidade financeira com os quais sempre sonhou. Ambos mantêm um relacionamento de fachada por conveniência. É quando Eugênio descobre que Olívia, sua grande e verdadeira paixão, está passando por graves complicações de saúde. Enquanto se encaminha para vê-la, Eugênio faz sérias reflexões sobre sua conduta diante a vida. E a partir daí percebe seus erros. Decidindo corrigi-los.
Esse livro caiu nas minhas mãos não muito por coincidência. Estava eu procurando obras clássicas que pudessem me gerar inspiração na criação de um novo romance, quando uma amiga me emprestou “Olhai os Lírios do Campo”. Posso dizer que esse livro é à frente de seu tempo. Mesmo tendo sido publicado pela primeira vez em 1938, seu enredo permanece um tanto contemporâneo. A supervalorização que as pessoas dão ao dinheiro e ao status são bem abordados. Mesmo nos dias atuais várias pessoas se mantêm ocupadas demais para ter uma vida em família e para valorizar pequenos e importantes momentos. Buscando sempre enriquecer financeiramente e viver no conforto do consumismo.
O livro é dividido em duas partes. Na primeira, Eugênio faz reflexões em cima das recordações de seu passado. Na segunda o personagem começa a evoluir e amadurecer notavelmente, redescobrindo pequenos prazeres que renovam o sentido a sua vida. Depois de iniciada a leitura é difícil recuar. Ao terminar um capítulo a curiosidade em saber o que irá ocorrer no próximo é grande. Mesmo com uma narrativa um pouco arrastada e mais extensa, como leitores, acabamos tendo a oportunidade de nos envolver um pouco a mais com a trama.
No início achei a vida de Eugênio semelhante à de Jesse Aarons de “Ponte para Terabítia” devido a grande pobreza vivida por sua família, mas a semelhança para por aí. Depois de moço, as ambições de Eugênio começam a ganhar proporções que nos faz acha-lo um cafajeste, mas tudo tem seu porque e alguma resolução. Absolutamente todos os personagens têm um bom desenvolvimento e sua importância. Minha única bronca foi com destino vivido por Olívia. Outro ponto que não me agradou muito foi o fato de alguns assuntos ficarem inacabados ao termino do livro. Quem ler saberá do que estou falando. Talvez essa tenha sido uma jogada proposital de Érico Veríssimo.
Como de costume, a Rede Globo fez uma adaptação dessa obra, assim como ocorreu com “O Tempo e o Vento”. Em 1980, “Olhai os Lírios do Campo” teve uma versão novelística no horário das 18hs. Naturalmente sofreu mudanças para que pudessem ser produzidos os 144 capítulos. Houve a inserção de personagens novos e o prolongamento da atuação de outros. Por exemplo, Ernesto, o irmão de Eugênio, aparenta ter uma participação mais efetiva. Como não assisti nada dessa adaptação não posso dar meu parecer. De qualquer forma, pelo menos a emissora carioca mostrava tentar valorizar o trabalho de um dos mais conceituados e famosos escritores da história da literatura nacional. Enquanto hoje em dia faz todo jogo de cartas marcadas no horário nobre e pouco dá oportunidade e auxílio a novos e possivelmente talentosos autores.
Para aqueles que têm receio de ler livros clássicos.Que acreditam que autores antigos como Machado de Assis, ou até mesmo Érico Veríssimo, são chatos. Que tentam passar longe dos verdadeiros “tijolões” de papel. Que não gostam de livros adquiridos em sebos. Essa é uma boa oportunidade para conhecer um pouco mais da Literatura Nacional e aprender a valorizar e respeitar os grandes nomes. Muitos dos quais já nem mesmo estão conosco.

O Grande Desafio


Toni é um Rapaz como tantos outros de sua idade. Bom aluno, gosta de natação, de computadores e está apaixonado por uma garota que não sabe como conquistar. Quando testemunha a prisão de Seu Afonso, pai de Carla decide desvendar o mistério por trás do acontecido. Com muita coragem e determinação, Toni deverá superar obstáculos para desvendar a verdade. O que não imaginava era que essa descoberta o levaria em direção a grandes problemas.
Quando li a sinopse não tive dúvidas em querer comprar esse livro. Naquele dia eu estava dando uma volta pela livraria sem muito dinheiro para gastar. Estava com peso na consciência por ter comprado mais Cd’s do que pretendia. O que resultou em ter verba para apenas um único livro. Foi com muita satisfação que escolhi comprar “O Grande Desafio”. Só não imaginava o que encontraria. Acreditava que teria algo agradável para desfrutar, somente por esse ser mais um livro do meu autor favorito, mas acabei surpreendido. Pedro Bandeira é o tipo de autor com a capacidade de me prender a seus livros.
Com “O Grande Desafio” algo que me chamou atenção foi o fato de o autor não revelar abertamente o drama vivido por Toni. Somente lendo a sinopse do livro não dá para adivinhar que o protagonista é deficiente visual (acho que fiz um spoiler, mas tudo bem, isso já é revelado nas primeiras páginas mesmo). Talvez a ausência dessa informação tenha sido proposital. O que em minha opinião foi uma jogada de mestre.
Foi uma maneira sutil de ir contra uma possível descriminação. Calma que já explico. Assim como muitas pessoas poderiam ter pena do protagonista ao ler a sinopse, muitos outros tratariam essa obra com descaso acreditando que a trama em si não teria graça. Só que o enredo por trás de “O Grande Desafio” é algo completamente surpreendente.
Desde as primeiras páginas a ação corre solta e sem nenhuma enrolação. Como leitores logo nos vemos envolvidos com a trama, assim como logo nos revoltamos com a injustiça vivida por Seu Afonso. Um senhor trabalhador e honesto que é praticamente forçado a confessar um crime que não praticou para proteger a integridade de sua família. Uma chantagem cretina que é praticamente enfiada garganta abaixo do homem. O pior é saber que esse tipo de coisa acontece na vida real com mais frequência do que se imagina.
Outro dia mesmo estava vendo na Tv uma matéria jornalística mostrando pessoas que foram presas erroneamente e que agora tentam levar uma vida normal e provar sua inocência. Mas esse é tema para outro tipo de discussão. Algo mais politizado. Que levante questões de direitos humanos que, no Brasil, protegem mais aos bandidos do que as pessoas de bem.
Voltando a falar do livro, Toni é um personagem muito inteligente e altamente corajoso que durante todo o tempo não fica se limitando por ser cego. Pelo contrário, é ele quem insiste em lutar com toda sua força para fazer justiça. Só que a prisão de Seu Afonso se revela ser algo muito pequeno perto da verdadeira intenção dos bandidos. Tudo se torna altamente perigoso para Toni, sua mãe Marta, para Carla e também para o cãozinho Chip, que se mostra tão destemido quanto seu dono. A vida de todos é colocada em risco.
Mesmo sem ter a deficiência visual de Toni como plano central da trama, esse assunto mostra sua importância até mesmo no suplemento de leitura. Bem no finzinho a atividade especial incentiva o leitor a escrever uma carta endereçada a alguma autoridade convidando-a a ajudar na aquisição de cães-guias para portadores de deficiência visual, uma vez que o treinamento dos mesmos é algo complicado de se conseguir. Achei altamente válido esse serviço social.
Minhas considerações finais sobre essa obra são positivas. Esse é o tipo de leitura que uma vez iniciada não se consegue interromper facilmente. Com um texto ágil e de fácil assimilação o conjunto da obra proporciona um bom momento de lazer para qualquer tipo de leitor. As ilustrações da atual edição também não ficam por fora. Os traços levemente detalhados de Kris Zullo conseguem implementar um clima todo especial. Parabéns a todos que trabalharam arduamente em cima dessa obra. Essa é mais uma recomendação minha, mas desde já advirto, devore com moderação.