domingo, 11 de janeiro de 2015

Olhai os lírios do Campo


Eugênio é um jovem médico que sempre ambicionou o conforto e o dinheiro. Desde a infância sua família sofria com a dificuldade financeira. Filho de Dona Alzira e Angêlo, o rapaz sentia vergonha de sua origem, chegando a menosprezar o pai que era um simples e esforçado alfaiate. Eugênio se envolve com Olívia, uma amiga de turma que só se tornou notável para ele após se formarem na faculdade. Uma das únicas amigas de verdade que sempre tentou fazê-lo enxergar a verdade.
Entre a árdua tarefa de exercer sua profissão e crescer profissionalmente, o jovem acaba “acidentalmente” conhecendo Eunice. Filha de família rica que se sente onipotente diante das outras pessoas, vendo-as como cobaias para suas experiências. Cego pela ganância, Eugênio se casa com a garota rica e insensível por puro interesse de adentrar na alta elite da sociedade e conseguir o conforto e estabilidade financeira com os quais sempre sonhou. Ambos mantêm um relacionamento de fachada por conveniência. É quando Eugênio descobre que Olívia, sua grande e verdadeira paixão, está passando por graves complicações de saúde. Enquanto se encaminha para vê-la, Eugênio faz sérias reflexões sobre sua conduta diante a vida. E a partir daí percebe seus erros. Decidindo corrigi-los.
Esse livro caiu nas minhas mãos não muito por coincidência. Estava eu procurando obras clássicas que pudessem me gerar inspiração na criação de um novo romance, quando uma amiga me emprestou “Olhai os Lírios do Campo”. Posso dizer que esse livro é à frente de seu tempo. Mesmo tendo sido publicado pela primeira vez em 1938, seu enredo permanece um tanto contemporâneo. A supervalorização que as pessoas dão ao dinheiro e ao status são bem abordados. Mesmo nos dias atuais várias pessoas se mantêm ocupadas demais para ter uma vida em família e para valorizar pequenos e importantes momentos. Buscando sempre enriquecer financeiramente e viver no conforto do consumismo.
O livro é dividido em duas partes. Na primeira, Eugênio faz reflexões em cima das recordações de seu passado. Na segunda o personagem começa a evoluir e amadurecer notavelmente, redescobrindo pequenos prazeres que renovam o sentido a sua vida. Depois de iniciada a leitura é difícil recuar. Ao terminar um capítulo a curiosidade em saber o que irá ocorrer no próximo é grande. Mesmo com uma narrativa um pouco arrastada e mais extensa, como leitores, acabamos tendo a oportunidade de nos envolver um pouco a mais com a trama.
No início achei a vida de Eugênio semelhante à de Jesse Aarons de “Ponte para Terabítia” devido a grande pobreza vivida por sua família, mas a semelhança para por aí. Depois de moço, as ambições de Eugênio começam a ganhar proporções que nos faz acha-lo um cafajeste, mas tudo tem seu porque e alguma resolução. Absolutamente todos os personagens têm um bom desenvolvimento e sua importância. Minha única bronca foi com destino vivido por Olívia. Outro ponto que não me agradou muito foi o fato de alguns assuntos ficarem inacabados ao termino do livro. Quem ler saberá do que estou falando. Talvez essa tenha sido uma jogada proposital de Érico Veríssimo.
Como de costume, a Rede Globo fez uma adaptação dessa obra, assim como ocorreu com “O Tempo e o Vento”. Em 1980, “Olhai os Lírios do Campo” teve uma versão novelística no horário das 18hs. Naturalmente sofreu mudanças para que pudessem ser produzidos os 144 capítulos. Houve a inserção de personagens novos e o prolongamento da atuação de outros. Por exemplo, Ernesto, o irmão de Eugênio, aparenta ter uma participação mais efetiva. Como não assisti nada dessa adaptação não posso dar meu parecer. De qualquer forma, pelo menos a emissora carioca mostrava tentar valorizar o trabalho de um dos mais conceituados e famosos escritores da história da literatura nacional. Enquanto hoje em dia faz todo jogo de cartas marcadas no horário nobre e pouco dá oportunidade e auxílio a novos e possivelmente talentosos autores.
Para aqueles que têm receio de ler livros clássicos.Que acreditam que autores antigos como Machado de Assis, ou até mesmo Érico Veríssimo, são chatos. Que tentam passar longe dos verdadeiros “tijolões” de papel. Que não gostam de livros adquiridos em sebos. Essa é uma boa oportunidade para conhecer um pouco mais da Literatura Nacional e aprender a valorizar e respeitar os grandes nomes. Muitos dos quais já nem mesmo estão conosco.

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