Eugênio é um jovem médico que sempre ambicionou o
conforto e o dinheiro. Desde a infância sua família sofria com a dificuldade
financeira. Filho de Dona Alzira e Angêlo, o rapaz sentia vergonha de sua origem,
chegando a menosprezar o pai que era um simples e esforçado alfaiate. Eugênio
se envolve com Olívia, uma amiga de turma que só se tornou notável para ele
após se formarem na faculdade. Uma das únicas amigas de verdade que sempre
tentou fazê-lo enxergar a verdade.
Entre a árdua tarefa de exercer sua profissão e
crescer profissionalmente, o jovem acaba “acidentalmente” conhecendo Eunice.
Filha de família rica que se sente onipotente diante das outras pessoas,
vendo-as como cobaias para suas experiências. Cego pela ganância, Eugênio se
casa com a garota rica e insensível por puro interesse de adentrar na alta
elite da sociedade e conseguir o conforto e estabilidade financeira com os
quais sempre sonhou. Ambos mantêm um relacionamento de fachada por
conveniência. É quando Eugênio descobre que Olívia, sua grande e verdadeira
paixão, está passando por graves complicações de saúde. Enquanto se encaminha
para vê-la, Eugênio faz sérias reflexões sobre sua conduta diante a vida. E a
partir daí percebe seus erros. Decidindo corrigi-los.
Esse livro caiu nas minhas mãos não muito por
coincidência. Estava eu procurando obras clássicas que pudessem me gerar inspiração
na criação de um novo romance, quando uma amiga me emprestou “Olhai os Lírios
do Campo”. Posso dizer que esse livro é à frente de seu tempo. Mesmo tendo sido
publicado pela primeira vez em 1938, seu enredo permanece um tanto
contemporâneo. A supervalorização que as pessoas dão ao dinheiro e ao status são bem abordados.
Mesmo nos dias atuais várias pessoas se mantêm ocupadas demais para ter uma
vida em família e para valorizar pequenos e importantes momentos. Buscando
sempre enriquecer financeiramente e viver no conforto do consumismo.
O livro é dividido em duas partes. Na primeira,
Eugênio faz reflexões em cima das recordações de seu passado. Na segunda o
personagem começa a evoluir e amadurecer notavelmente, redescobrindo pequenos
prazeres que renovam o sentido a sua vida. Depois de iniciada a leitura é
difícil recuar. Ao terminar um capítulo a curiosidade em saber o que irá
ocorrer no próximo é grande. Mesmo com uma narrativa um pouco arrastada e mais
extensa, como leitores, acabamos tendo a oportunidade de nos envolver um pouco
a mais com a trama.
No início achei a vida de Eugênio semelhante à de Jesse Aarons de “Ponte para Terabítia” devido a grande pobreza vivida por sua família,
mas a semelhança para por aí. Depois de moço, as ambições de Eugênio começam a
ganhar proporções que nos faz acha-lo um cafajeste, mas tudo tem seu porque e
alguma resolução. Absolutamente todos os personagens têm um bom desenvolvimento
e sua importância. Minha única bronca foi com destino vivido por Olívia. Outro
ponto que não me agradou muito foi o fato de alguns assuntos ficarem inacabados
ao termino do livro. Quem ler saberá do que estou falando. Talvez essa tenha
sido uma jogada proposital de Érico Veríssimo.
Como de costume, a Rede Globo fez uma adaptação dessa
obra, assim como ocorreu com “O Tempo e o Vento”. Em 1980, “Olhai os Lírios do
Campo” teve uma versão novelística no horário das 18hs. Naturalmente sofreu
mudanças para que pudessem ser produzidos os 144 capítulos. Houve a inserção de
personagens novos e o prolongamento da atuação de outros. Por exemplo, Ernesto,
o irmão de Eugênio, aparenta ter uma participação mais efetiva. Como não
assisti nada dessa adaptação não posso dar meu parecer. De qualquer forma, pelo
menos a emissora carioca mostrava tentar valorizar o trabalho de um dos mais
conceituados e famosos escritores da história da literatura nacional. Enquanto hoje em dia faz todo jogo de cartas marcadas no horário nobre e pouco dá oportunidade e auxílio a novos e possivelmente talentosos autores.
Para aqueles que têm receio de ler livros clássicos.Que acreditam que autores antigos como Machado de Assis, ou até mesmo Érico Veríssimo,
são chatos. Que tentam passar longe dos verdadeiros “tijolões” de papel. Que
não gostam de livros adquiridos em sebos. Essa é uma boa oportunidade para
conhecer um pouco mais da Literatura Nacional e aprender a valorizar e
respeitar os grandes nomes. Muitos dos quais já nem mesmo estão conosco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário