Se
muitos jovens nascidos da década de noventa até os tempos mais atuais só
conhecem a decadente Turma do Didi, eu (e tantos outros pertencentes à geração
oitenta) tive o privilégio de ter conhecido o quarteto humorístico dos
Trapalhões. Hoje em dia as piadas e o programa comandado por Renato Aragão já
não tem o mesmo efeito de antigamente, mas não podemos condena-lo. A
justificativa para essa visível decadência não é devido ao fardo da idade
elevada, não é devido à falta de talento e não é devido à ao monopólio da Globo.
Tudo é graças a nossa sociedade que se preocupa tanto em manter as aparências
que dos últimos anos para cá resolveu desenvolver um falso moralismo que serve
apenas para prejudicar os mais talentosos.
Como
disse Dedé Santana em uma entrevista, hoje em dia é muito mais difícil fazer
humor no nosso país. Muitas coisas acabam movimentando processos judiciários
simplesmente com o intuito de arrancar dinheiro das pessoas. Tudo deve ser
pensado antes de ser dito e para quem se expõe na mídia o cuidado deve ser redobrado.
Mas esta postagem não é para questionar o falso moralismo da sociedade e sim tentar
fazer um pouco de justiça a um grupo que por anos seguidos conseguiu colorir o
humor nacional com uma maestria inquestionável.
A
ideia dessa postagem surgiu depois que fiquei estarrecido pelo fato de uma
amiga de dezesseis anos confessar que não conhecia o Mussum. Tudo bem que ela
não tem nenhuma obrigação de conhecer o trabalho dele, mas é que pensando no
rumo que nosso humor está tomando foi que fiquei um tanto chateado pela total
desvalorização que os Trapalhões sofreram. Pensem no seguinte se não fosse pelos
Trapalhões, hoje em dia talvez não teria nem mesmo esse tal de Stand Up Comedy
forçado e limitado.
Escrevi
um texto que coloquei no meu perfil do Facebook como uma pequena homenagem
particular ao nosso querido Mussum, mas ao ver aquele quadro do Fantástico, “O
que vi da vida”, no qual Renato Aragão deu seu depoimento, decidi fazer uma
singela homenagem ao grupo todo, então vamos lá.
Por
ter nascido e crescido na década de oitenta, tive o prazer de ter desfrutado de
várias coisas decorrentes da época. Mesmo em tempos difíceis era possível
sorrir com satisfação. Se hoje a programação televisiva das noites de Domingo é
fatídica, na década de oitenta e até primórdios de noventa as noites eram
recheadas com as trapalhadas de um quarteto muito querido. Tradicionalmente o
programa semanal deles ia ao ar às sete horas da noite.
Didi,
Dedé, Mussum e Zacarias se completavam diante as câmeras. Uma das lembranças
mais antigas que tenho deles é a abertura do programa com a clássica e
nostálgica musica com a cena de cada um se atrapalhando em algo. Eu achava o
maior barato a cena do Mussum pescando sentado em uma canoa e puxando a tampa
do lago.
Enquanto
hoje em dia o cinema nacional é defasado e desvalorizado tendo muitos bons
projetos engavetados por completa falta de interesse das produtoras,
antigamente com todas as dificuldades vividas o grupo lançava praticamente dois
filmes por ano nos cinemas. Quando alguém lhe pergunta qual foi o primeiro
filme que você viu no cinema, qual será a sua resposta? A minha será dada com
gosto.
A
primeira vez que coloquei os pés dentro de uma sala de cinema foi para assistir
a um filme dos Trapalhões, mas não me pergunte qual filme era porque disso não
me lembro, era realmente muito novo mesmo. O mesmo não posso responder sobre
qual filme deles é o meu favorito. São tantos filmes que já vi que não dá para
dizer. Talvez o meu favorito seja “O casamento dos Trapalhões” por ter sido um
dos que eu mais assisti, ou também “O mágico de Oróz”, ou talvez “A filha dos
Trapalhões”, ou então “Os Saltimbancos Trapalhões”. Ah, deixa pra lá, não sei
mesmo, afinal nem mesmo vi todos os filmes deles mesmo.
Haviam
também produtos relacionados a marca “Os Trapalhões” como copos, ioiôs,
camisas, revistas em quadrinhos e por aí vai, além é claro dos discos musicais. Os únicos produtos que tive deles mesmo foram copos e uma revista em quadrinhos. Eles eram queridos por todos, tanto que a morte de um dos membros causou
comoção e chocou toda população. Me lembro de que nos primeiros meses do ano de
noventa a Globo estava realizando nas tardes de Domingo uma seção especial “Os
Trapalhões” ao passar um filme por semana no horário em que hoje são passados
os filmes da “Temperatura Máxima” (Naquela época ainda nem era Temperatura
Máxima para se ter uma ideia). Na manhã de um determinado Domingo meu tio
chegou da rua nos dizendo que Zacarias havia morrido. Logicamente que eu e meu
irmão não acreditamos porque nós o víamos bem todos os fins de semana tanto nos
filmes quanto nos programas.
Horas
depois antes de o filme se iniciar, o símbolo da Globo tomou toda a tela (Ainda
não era aquele plantão maldito com música aterrorizante que sempre vem com o
anúncio de alguma morte. Acho que era o Plantão JN, ou algo do tipo. Já não me
lembro mais.) e uma voz grossa e aveludada anunciou a confirmação da notícia
que recebemos naquela manhã. Foi realmente muito difícil assistir aquele filme
depois daquela notícia e mais triste ainda perceber que era verdade.
A
princípio achamos que o grupo ficaria desfalcado e que os programas perderiam
sua qualidade. Zacarias era o mais querido das crianças pelo fato delas se identificarem
com o personagem e pelo fato de ele ser uma eterna criança completamente ingênua.
De qualquer forma, aquela risadinha, aquela peruca, aqueles dentes e aquele
jeito de moleque se eternizaram na memória de todos. Tanto que hoje em dia é
fácil encontrar quem o imite, mas é difícil encontrar quem possua o mesmo
talento.
Assim
como todos os Brasileiros, o grupo decidiu seguir em frente mesmo que fosse
difícil. Os quadros não seriam os mesmos sem o Zaca, mas o show não podia
parar. Por mais alguns anos os três conseguiram seguir com seu humor de
qualidade. Os filmes também seguiram apenas com o trio e recheados de
participações especiais. Até que após quatro anos do falecimento do Zacarias,
foi a vez do Mussum nos deixar.
Dessa
época lembro com mais clareza. Mussum permaneceu dias internado devido alguns
problemas cardiovasculares, chegou a passar por um transplante, mas não
resistiu. Me lembro de que nessa época minha família havia ganho uma
cachorrinha de raça e para amamenta-la tínhamos de dar mamadeira, já que era
órfã. Eu e meu irmão revezávamos as amamentações da nossa cãozinha. Me
lembro de que justamente na minha vez passou no Jornal Nacional notícias sobre
o quadro clínico do Mussum. Fiquei um pouco bravo porque não pude ver direito.
Dias
depois desse fato já de manhã após acordar, meu irmão me contou que o Mussum
também havia falecido. O grupo então acabou sendo dissolvido aos poucos. Os
programas não seriam os mesmos desde aquele momento. Didi e Dedé tentaram
seguir, mas o fim do grupo acabou sendo inevitável. Para mim já não tinha a
mesma graça. Os meus favoritos já não estavam em condições de atuar. Didi e
Dedé que me desculpem, mas eu sempre preferi o Mussum e o Zacarias. (eles não
são meus favoritos por terem morrido, mas por serem realmente os mais
engraçados.).
A
Globo começou então a realizar reprises dos programas antigos nas manhãs da
programação. Era até legal vê-los e melhor ainda era rever seus filmes, mas no
final da década de noventa tudo acabou definitivamente. Os programas e os
filmes deixaram de ser exibidos e pelo que me lembro tanto a emissora,
quanto a produção do programa e dos filmes, deixaram de pagar as famílias do Mussum e do
Zacarias pelos direitos de imagem e rolou até um processo judicial em cima
disso, mas não sei se isso é verdade.
No
início dos anos dois mil Renato Aragão voltou a ter um programa próprio
intitulado de “A Turma do Didi”, com o formato semelhante aos Trapalhões, mas
notavelmente não emplacaria tanto quanto o grupo antigo. Eu mesmo mal consegui
assistir ao primeiro episódio. Hoje em dia só acho legal passear pelo programa
para rever os quadros antigos dos Trapalhões.
Quando
saem matérias sobre Renato Aragão (como o boato de que a Turma do Didi não faz
mais parte da grade de programação da Globo), muitas pessoas fazem comentários
depreciativos ao artista sem se importar com o impacto que isso causa. Não me
interpretem mal, não estou sendo o advogado de defesa do Didi, apenas acho que
como ser humano ele merece ser respeitado e que todos nós deveríamos nos
lembrar de tudo o que ele já fez. Se a renda do “Criança Esperança” é desviada
para o bolso dos poderosos, se Renato Aragão deixou de pagar pelos direitos de
imagem dos companheiros para ganhar um pouco a mais, tudo isso ainda é boato.
O
importante é o quanto Renato Aragão suou e batalhou para tornar sua arte
válida. Por isso antes de fazer comentários infelizes, pesquisem um pouco a
história da pessoa como um todo e vejam que mesmo com limitações humanas, todos
nós somos capazes de realizar tanto feitos bons quanto malignos. Temos o
direito de errar, mas também temos a obrigação de acertar. Pensem nisso.
Quanto
as minhas recordações, continuam mágicas. Ainda lembro com carinho desse mágico
grupo que já mostrou um humor brasileiro de alto calibre. Ao contrário dos atuais
humorísticos vazios como “Zorra Total”, “A Praça é Nossa”, “Furo MTV”, “Pânico
na Band” e tantos outros que tentam forçar risadas, os Trapalhões conseguiam
realizar esse feito de forma altamente espontânea.
Abaixo
deixo o link de um site especializado nos Trapalhões e alguns vídeos. Bom
divertimento a todos.
As imagens aqui encontradas foram extraídas da Intenet. |
Os vídeos abaixo são de várias coisas diferentes abrangendo desde a minha abertura favorita do programa, as matérias sobre a morte do Zacarias e Mussum, até especiais sobre o grupo. Vale ressaltar que nos especiais deixei apenas o primeiro vídeo. Os interessados que procurem as demais partes no You Tube.
Parabéns pela matéria! Trapalhões é cultura e não deve morrer e as crianças de hoje devem assistir esse quarteto que marcou gerações e gerações em todas as idades. Abraços!
ResponderExcluirAnderson Silveira Rio Grande - RS.
Pois é Anderson, pode parecer suspeito da minha parte falar tão bem de algo que cresci assistindo e admirando, mas tudo o que escrevi é verdadeiro. Como você disse, as crianças de hoje em dia deveriam assistir aos Trapalhões sem dúvida. Esse quarteto sim possui talento e cultura a oferecer. Diferente de tantos lixos atuais que tentam e tentam, mas nunca serão nada na minha opinião. Um bom exemplo que posso citar é o lixo industrializado denominado Patatí Patatá. Uma dupla medíocre que desonra os verdadeiros artistas circenses que fazem infinitamente mais do que pintar a cara, vestir uma roupa esdrúxula e FINGIR que gosta de crianças.
ResponderExcluirOlá Davidson! Como vai?
ResponderExcluirMeu nome é Lozandres... Eu junto com Diego Munhoz, somos os moderadores do site: http://www.ostrapalhoes.net/
Bom... Conforme com tudo o que você se referiu pela justíssima homenagem a Os Trapalhões neste seu Blog e pela sua riquíssima história do quanto Os Trapalhões foram importantes para a nossa cultura.
Um detalhe muito simples que quero deixar aqui neste espaço... Enquanto o Didi e o Dedé estiverem conosco, graças a DEUS que ainda temos ótimas lembranças destes senhores que ainda estão conosco para mostrar e dizer que ainda temos muitas saudades e respeito por eles, por tudo que já nos proporcionaram. E um dia sentiremos ainda muito mais saudades, se não tivermos mais oportunidades de podermos de dizer isso... OBRIGADO!!!
parabens cara! eu nasci em 93 e graças a deus nasci a tempo de acompanhar as reprises!!! hoje sou fãnzaço dos trapas! é tristes esse jovens que nasceram de 98 pra ca, nem saber quem foi mussum e zacarias e terem tamta raiva do didi!
ResponderExcluirÉ isso aí galera. Trapalhões Forever!
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